Começa nesta terça-feira (28/1) a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), a primeira de 2025 e também a primeira sob a presidência de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula (PT) após dois anos convivendo com um presidente escolhido pelo governo anterior. Há sinalização do próprio comitê de elevação da taxa básica de juros (a Selic) em um ponto percentual (p.p.), subindo de 12,25% para 13,25% ao ano.
Entenda a situação da taxa de juros no Brasil
- A taxa Selic é o principal instrumento de controle da inflação, que ficou acima do teto da meta em 2024.
- Em 2024, a taxa básica de juros do país ficou em 12,25% ao ano – voltando ao mesmo patamar de novembro de 2023. Esse foi o terceiro aumento consecutivo na taxa de juros.
- A expectativa é de novas altas nos juros ainda nos primeiros meses deste ano. Isso porque, na última ata do Copom, o BC adiantou que deveria fazer mais duas elevações, de pelo menos 1 ponto percentual, na taxa Selic no começo de 2025.
- O mercado financeiro estima que a Selic ficará em 15% ao ano até o fim de 2025, segundo o relatório Focus.
- Assim como o próprio BC, analistas financeiros projetam aumento de 1 ponto percentual na taxa de juros, que passaria dos atuais 12,25% ao ano para 13,25% ao ano.
- Projeções mais recentes mostram que o mercado financeiro desacredita em um cenário no qual a taxa de juros volte a ficar abaixo de dois dígitos durante o atual governo Lula, que termina em 2026.
Esse aumento, já contratado, será o primeiro “teste de fogo” da relação entre o novo chefe da autoridade monetária e o presidente da República. Entre 2023 e 2024, Lula disparou uma série de críticas ao antecessor de Galípolo, Roberto Campos Neto, inclusive acusando-o de ter “lado político” e de trabalhar para prejudicar o país. Na troca de comando, porém, o petista garantiu que Galípolo agiria com “verdadeira autonomia”.
Galípolo foi o responsável por fazer uma ponte entre a campanha petista e atores do mercado financeiro nas eleições de 2022. Foi secretário-executivo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entre janeiro e junho de 2023. Depois, virou diretor de Política Monetária do BC e favorito de Lula para comandar o banco, como ocorreu.
Os olhares também estarão voltados para a reação à provável alta da Selic por parte de auxiliares de Lula e expoentes do PT – estes últimos sempre foram vocais nas críticas ao BC e a Campos Neto em momentos de subida nos juros. As reações vão depender também das sinalizações que o Copom vai dar daqui para frente, ou seja, para as próximas reuniões.
A reunião do Copom acontece após um 2024 que teve descumprimento da meta de inflação e em um 2025 que se inicia com expectativa de novo estouro do alvo. Também há forte pressão gerada pelos altos preços dos alimentos e pela valorização da taxa de câmbio (dólar frente ao real).
A taxa de juros que ficará vigente pelos próximos 45 dias será divulgada no fim da tarde de quarta-feira (29/1), após dois dias de reuniões entre Galípolo e os outros oito diretores do Copom.
Na segunda-feira (27/1), os analistas do mercado financeiro consultados pelo Relatório Focus voltaram a aumentar a estimativa de inflação para 2025. Para eles, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, deve terminar este ano em 5,5%, ante 5,08% projetados na semana passada. Foi a 15ª semana consecutiva em que houve elevação nas estimativas de inflação.
O mercado financeiro manteve a estimativa para a Selic no fim de 2025 em 15% ao ano. Vale lembrar que, caso haja novo aumento de 1 ponto percentual na reunião de março, a taxa poderá se aproximar de 15% ainda no começo do ano.
Ao elevar a Selic para conter a inflação, a consequência esperada é a redução do consumo e dos investimentos no país. O crédito fica mais caro e a atividade econômica tende a desaquecer, provocando queda de preços para os consumidores.
“Apesar de necessária, a alta dos juros gera impactos significativos na economia, como menor crescimento do PIB e maior pressão sobre o crédito. O cenário exige uma combinação de medidas fiscais e monetárias para equilibrar o crescimento econômico e o controle inflacionário”, explica Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.
As expectativas do mercado são de que a Selic só comece a abaixar a partir de 2026, encerrando o próximo ano a 12,5%.
Prévia da inflação pode pressionar os juros
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de janeiro – considerado a prévia da inflação – mostrou que os preços de bens e produtos subiram 0,11% neste mês, com forte influência dos grupos Alimentação e Bebidas e Transportes. Embora tenha avançado no primeiro mês de 2025, o índice desacelerou em comparação a dezembro de 2024, quando registrou alta de 0,34%.
É consenso entre os especialistas que o IPCA-15 traz um sinal de que a inflação segue mostrando indícios de persistência, apesar de ter recuado em comparação ao mês anterior. Para eles, esse valor do índice pode pressionar a alta dos juros.
Tomate e café são os vilões da inflação de janeiro. Batata teve queda
O resultado surpreendeu e ficou acima do esperado pelo mercado financeiro. Por exemplo, a previsão da Warren Investimentos era de deflação de 0,02% (isto é: o recuo dos preços em um período).
Cenário externo
Os primeiros dias do segundo governo Donald Trump nos Estados Unidos e a decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o BC americano), que também ocorre nesta semana, é um fator adicional para engrossar o caldo no Brasil.
Ainda há incertezas sobre a direção que o Fed irá tomar, entre manter ou reduzir os juros. A expectativa dos investidores é que o BC estadunidense mantenha os juros no intervalo entre 4,25% e 4,5%, contrariando Trump, que defende uma queda na taxa.
A próxima quarta, inclusive, será mais uma “superquarta”, quando coincidem as decisões sobre juros no Brasil e nos EUA. O cenário externo, portanto, seguirá sendo fortemente considerado no balanço de riscos do Copom.
Por Metropoles